Anticoncepção de Emergência
- DefiniçãoAnticoncepção de emergência consiste no uso de um método anticoncepcional depois de uma relação sexual vaginal desprotegida, seja esta uma relação consensual ou forçada (estupro, violação). A anticoncepção de emergência é o único método que é efetivo quando se usa depois da relação sexual.
Atualmente, existem no mundo três modalidades aprovadas de anticoncepção de emergência:
1. Anticoncepção oral hormonal:
- Com pílulas contraceptivas combinadas (Método de Yuzpe)
- Com pílulas de levonorgestrel; o método mais usado no Brasil
2. Uso de DIU com cobre depois da relação sexual não protegida, cujo uso não está autorizado no Brasil.
3. Acetato de Ulipristal, que é um modulador específico dos receptores de progesterona, registrado em Europa e nos Estados Unidos, não está registrado no Brasil.
Por ser a única modalidade aprovada no Brasil, o capítulo se refere exclusivamente à anticoncepção hormonal oral de emergência, que consiste no uso de pílulas que contêm um progestogênio (levonorgestrel) ou uma combinação de um estrogênio e um progestogênio (Método de Yuzpe) que podem ser tomadas para evitar a gravidez depois de uma relação sexual desprotegida. - Mecanismo de AçãoAs pílulas anticoncepcionais de emergência atuam evitando ou atrasando a ovulação, impedindo a fecundação. Se a fecundação já aconteceu não tem nenhum efeito sobre a evolução do óvulo fecundado, porque não tem nenhum efeito sobre a nidação ou implantação do embrião no endométrio e tampouco tem qualquer efeito após a nidação. Não tem efeito abortivo (FIGO, CLAE, 2008).
Atualmente a anticoncepção de emergência mais utilizada é a que utiliza pílulas só com levonorgestrel. Existem duas formulações desse produto, que têm a mesma dose total:
• Blíster com duas pílulas de 750 mcg de levonorgestrel cada uma;
• Blíster com uma pílula de 1500 mcg de levonorgestrel.
De preferência deve-se usar a segunda formulação por ser mais cômoda e porque elimina o risco de não se tomar a segunda dose ou tomá-la depois de 12 horas da primeira dose. Por essas razões, se a mulher tem o produto com duas pílulas, essas devem ser tomadas juntas, de uma vez.
A informação deste capítulo refere-se ao produto só com levonorgestrel porque é o único método para uso apenas como anticoncepção de emergência. Além disso, é o método sobre o qual existe mais informação atualizada e baseada em evidência científica e é o método recomendado internacionalmente, por ter eficácia mais alta e menos efeitos secundários.
- Eficácia e taxa de continuaçãoA eficácia da anticoncepção de emergência com levonorgestrel é maior do que com o método de Yuzpe.
• Se 100 mulheres tiveram relações sexuais uma vez durante a segunda ou terceira semana do ciclo menstrual sem proteção anticoncepcional, provavelmente 8 engravidaram.
• Se essas 100 mulheres utilizaram anticoncepção de emergência com levonorgestrel, provavelmente uma engravidaria.
• A anticoncepção de emergência com levonorgestrel evita mais ou menos 85% das gestações que ocorreriam com uma única relação desprotegida. (Trussel J, 2009)
A fertilidade retorna sem demora após a interrupção do uso. A pílula de emergência protege só contra uma relação sexual e não deixa nenhom efeito residual.
É importante destacar que as pílulas de emergência reduzem o risco de gravidez somente quando são usadas até 120 horas depois da relação sexual.
A eficácia é maior quanto mais precocemente é tomada após a relação sexual desprotegida. Ela não protege a mulher por atos sexuais realizados depois que é tomada, nem mesmo no dia seguinte. Para manter-se protegida de uma gravidez, a mulher deve começar a usar outro método anticoncepcional imediatamente.
- Efeitos colaterais, riscos e benefícios
- Efeitos ColateraisAlgumas usuárias apresentam:
• Alterações no padrão de sangramento, incluindo sangramento irregular leve um a dois dias depois de tomar as pílulas e menstruação que começa antes ou depois da data esperada.
• Na semana depois de tomar as pílulas de emergência algumas mulheres podem apresentar náuseas, dor abdominal, fadiga, cefaleias, sensibilidade mamária ou vômitos. - Riscos para a saúdenenhum
- Benefícios não contraceptivos
- Modo de uso
- Quem pode usarToda mulher pode utilizar anticoncepção de emergência segura e eficazmente, incluindo aquelas que não podem usar métodos anticoncepcionais hormonais de maneira contínua. Devido à brevidade da posologia, não existem patologias médicas para as quais seu uso não seja seguro para todas as mulheres.
IMPORTANTE: A anticoncepção de emergência pode ser necessária em diferentes situações. Por isso, se possível, toda mulher deve receber antecipadamente uma provisão de pílulas de emergência, se assim o desejar. A mulher pode guarda-la para um eventual uso porque, se já tem as pílulas de antemão, será mais susceptível a usá-la em caso de necessidade. Além disso, o fato de tê-las à mão, permite que seja tomada o mais logo possível depois da relação sexual desprotegida.
- Quando começarEm qualquer momento até 5 dias (120 horas) depois da relação sexual desprotegida. A anticoncepção de emergência é mais eficaz quanto mais próximo da relação sexual desprotegida for tomada.
A anticoncepção de emergência é apropriada em muitas situações, todas as vezes que a mulher está preocupada com a possibilidade de engravidar. Por exemplo; depois de:
• Violência sexual;
• Uso incorreto do preservativo;
• Uso incorreto de um método de percepção da fertilidade;
• A ejaculação aconteceu antes da retirada do pênis da vagina;
• A mulher esqueceu três pílulas combinadas ou mais, ou começou uma nova cartela com três ou mais dias de atraso;
• O DIU não está no lugar apropriado (expulsão parcial ou total ou intra-abdominal no caso de perfuração uterina);
• Atraso na aplicação da injeção trimestral 4 semanas ou mais, ou mais de sete dias de atraso da aplicação da injeção mensal.
- Esquemas de uso • Forneça as pílulas; a mulher deve toma-las assim que possível.
• Explique à mulher que são mais efetivas quanto antes são tomadas.
• Explique à mulher a posologia total. Atualmente recomenda-se tomar 1,5 mg em dose única (duas pílulas juntas no caso de produtos com pílulas de 0,75 mg).
• Descreva os efeitos colaterais mais comuns e o que fazer em cada caso:
- Náuseas: não se recomenda a utilização rotineira de antieméticos. As mulheres que tiveram náuseas com o uso anterior da anticoncepção de emergência ou após a primeira dose do regime de duas doses podem tomar medicação antiemética disponível localmente entre meia e uma hora antes de tomar as pílulas.
- Vômitos: se a mulher vomita dentro de 2 horas depois de tomar as pílulas deverá tomar outra dose. Se os vômitos continuam, poderá repetir a dose colocando a pílula profundamente na vagina. Se os vômitos ocorrem depois de duas horas da ingestão da pílula, não necessita nenhuma dose adicional.
Importante: Explique que as pílulas só de progestogênio não protegem contra infecções de transmissão sexual incluindo o HIV/Aids. Explique o que é e a importância da dupla proteção e estimule seu uso.
Quando iniciar um método anticoncepcional depois do uso da anticoncepção de emergência
• Anticoncepcionais orais combinados ou só de progestogênio, adesivo combinado, anel vaginal combinado: pode iniciar no dia seguinte ao uso da anticoncepção de emergência. Não necessita esperar a próxima menstruação. Deverá usar um método de respaldo nos primeiros sete dias do método.
• Injetáveis só de progestogênio e injetáveis mensais: pode iniciar no mesmo dia que tomou a anticoncepção de emergência. Não é necessário esperar a próxima menstruação para receber a injeção. Deverá usar um método de respaldo nos sete dias seguintes.
• Implantes: podem ser inseridos no mesmo dia que tomou as pílulas de anticoncepção de emergência. Deverá usar um método de respaldo nos próximos sete dias. Se o implante não for inserido imediatamente, a inserção poderá ser feita em qualquer momento, se há certeza razoável de que a mulher não está grávida.
• Dispositivo intrauterino (DIU de cobre ou hormonal): o DIU pode ser inserido no mesmo dia em que tomar a anticoncepção de emergência. Não é necessário um método de respaldo.
• Preservativos masculino e feminino, espermicidas, diafragmas, capuz cervical e coito interrompido: imediatamente
• Métodos baseados na percepção da fertilidade
- Método dos dias fixos: com o começo da próxima menstruação.
- Métodos baseados nos sintomas: uma vez restabelecidas as secreções normais.
- Forneça um método de respaldo até que possa iniciar o método de escolha.
- Acompanhamento clínico • Ajude a mulher a começar um método contínuo. Explique que as pílulas de emergência não a protegem de gravidez em relações sexuais futuras. Cada vez que se tomam, essa dose protege só contra a relação anterior. Discuta com ela a necessidade de usar um método regular e a necessidade de proteger-se também contra as infecções de transmissão sexual, incluindo o HIV. Se a mulher não deseja começar um método anticoncepcional neste momento, forneça preservativos ou pílulas e solicite a ela que os use se mudar de opinião. Instrua sobre o uso correto desses métodos.
• No caso de uso das pílulas de emergência devido ao esquecimento de pílulas combinadas, deve-se recomendar que continue tomando as pílulas normalmente e usar um método de respaldo por 7 dias (preservativo).
• Oriente-a para retornar em qualquer momento que desejar, para escolher outro método ou se tiver perguntas ou problemas.
• Explique que a anticoncepção de emergência não é abortiva nem induz ou provoca a menstruação; e que, apesar de eficazes, existe a possibilidade de falha. A menstruação seguinte após o uso das pílulas de emergência poderá vir mais ou menos na data esperada ou pode adiantar ou atrasar até 10 dias ou mais. Se o atraso é de mais de 15 dias da data esperada ou se há sinais ou sintomas de gravidez, recomende um teste de gravidez.
• Não existe um limite máximo de pílulas de emergência que pode ser utilizado em um mês. Entretanto, o uso frequente indica a necessidade do uso de um método regular de anticoncepção.
Manejo dos Efeitos Colaterais
• Sangramento irregular leve
O sangramento irregular provocado pelas pílulas de anticoncepção de emergência cessará sem tratamento. Assegure à mulher que isto não é um sinal de gravidez ou de algum problema.
• Mudanças na data da próxima menstruação ou suspeita de gravidez
A menstruação pode começar antes ou depois da data esperada. Se depois de tomar as pílulas a menstruação atrasar mais de uma semana da data esperada, solicite um teste de gravidez. - Perguntas Frequentes
- Referências1. World Health Organization Department of Reproductive Health and Research (WHO/RHR) and Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health/Center for Communication Programs (CCP), Knowledge for Health Project. Family Planning: A Global Handbook for Providers (2018 update). Baltimore and Geneva: CCP and WHO, 2018.
2. World Health Organization. Medical Elegibility criteria for contraceptive use. A WHO Family Planning cornerstone. Fifth Edition, 2015.